O COLECIONADOR DE VULVAS / Ricardo Correia

Inserindo suas personagens, notadamente heroicas, ou anti-heroicas, mas, não sem a grandeza necessária aos grandes atos, necessários às grandes transformações, em um universo de cidades não reveladas, em uma realidade, muitas vezes, onírica; as heroínas, aqui, são, muitas vezes mais, representações do arquétipo feminino, manifestando-se analiticamente no universo reprimido e limítrofe dos homens, que mulheres propriamente ditas; mas não como se fora algo diferente ou estranho a ele, e sim, como uma confirmação transbordante de sua própria e mesma natureza. O homem, aqui, longe das bravatas que revelam sua coragem ou escondem suas fraquezas, é o homem tolhido em suas angústias e traumas e em uma sociedade tirânica e sufocantemente preconceituosa, que se liberta, não através, mas sim, no próprio feminino, exatamente por sê-lo. A mulher é o ponto de partida para uma transformação imprescindível para o seu libertar; e o seu inevitável retorno. Para que o seu olhar para o mundo enriqueça-se por meio de uma nova perspectiva e, atuando, então, sob os auspícios de um novo paradigma, salvar-se de si mesmo; não porque através do feminino, mas, porque é ele o mesmo e próprio feminino.

Ricardo Correia, através do desvelamento de suas "Vulvas", oferece-nos uma via de redenção, na revelação de "suas" mulheres, sob uma ótica feminina, manifesta em uma realidade onde santidade e profano se amalgamam em uma simbiose, notadamente, indissolúvel. Assim, presta-lhe uma homenagem nesses 12 contos que, como a jornada redentora de Héracles, em seus doze trabalhos, liberta-o da condição de humano para alçá-lo na gloriosa e, mundanamente divina, montanha do Olimpo. E transmutado, de homem em deus, dá nova orientação e roupagem ao super-homem nietzscheano. Parafraseando o filósofo, diria, estabelecendo seus laços de familiariedade pós-redenção: "Só quem se transforma permanece meu parente". Os primeiros a se alegrarem foram os meus pais. Assim como, para Pasolini, os jovens são os primeiros que amam. Sei que sempre fui (ainda o sou) uma criança tímida, reservada, de temperamento introspectivo; diria, até mesmo, depressiva. E o súbito interesse em adentrar-me nas fileiras que engrossam o lunático clube dos colecionadores causou certo espanto, uma pequena celeuma, diria, naqueles que já acostumados com o meu temperamento obsessivamente apático, viam surgir, agora, um ser humano de temperamento apaixonado; que, como por obra de um simples acaso (como se por trás do "acaso" não houvesse os dedos fatídicos das Moiras), resolvera abdicar de sua indolente obsessão, em razão de uma compulsiva necessidade de identificação e organização. Havia me tornado um colecionador..., ou melhor, "O colecionador"... O colecionador de vulvas. Nascido no Rio de Janeiro, o autor diz escrever "...por não ter algo melhor para fazer; por ser doente, mesmo...". Esta é toda sua biografia.

Serviço:

O Colecionador de Vulvas
Ricardo Correia
Scortecci Editora
Contos
ISBN 978-85-366-2576-8
Formato 14 x 21 cm 
128 páginas
1ª edição - 2012

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