HIDRA INOFENSIVA PARA HEROÍSMO NENHUM / Zuleika dos Reis


Livro de contos? Alguns textos, creio, podem ser classificados assim. Livro de crônicas? Há textos que o são, crônicas; outros tantos, prosa poética. De vários posso afirmar que não pertencem, claramente, a gênero específico. Relatos ficcionais? Pura miscelânea? Talvez embrião de romance que, na quase totalidade dos escritos, os mesmos personagens reaparecem, a comporem um mosaico, ou um vitral, ou evanescências, como imagens de caleidoscópio. Embrião de romance, coletânea de textos “degenerados”... isto é, nada sendo, desde o título, Hidra inofensiva para heroísmo nenhum.

“Não consigo permanecer inseto, embora o queira tanto. O dia em que eu quis ser uma vaca... Por baixo das palavras eu sempre me quis só mulher, sua fêmea. Uma vaca, pastando pacífica, compreendendo tudo com enormes olhos sem história.”
De “A visita da mulher aranha”

“Eu tento, tento, mas sei que o que quero é chegar a Daniel, desesperadamente chegar a Daniel, através de Aleph. Chegar a Daniel, que não consegue nunca sonhar plenamente com seu próprio rosto, assim como jamais consigo sonhar plenamente com o meu próprio, coisa que só comecei a compreender de verdade depois da vinda de Daniel.”
De “Aleph não quer me dar o mundo”

“Deus Ex Machina, por nome humano Raul, caminha pela calçada, seguido pela silhueta dos veículos, dos arranha-céus, das luzes de néon e da lua cheia. Caminha devagar, com um pacote contra o peito, como se estreitasse o amigo ou a amante, sabendo-se cro-nópio, degenerado e em extinção. Ei-lo que chega a casa, abre a porta e, mesmo antes de ir ao banheiro, desfaz o referido pacote, retira-lhe do interior objetos já pretéritos — ainda que seus fabri-cantes continuem a tentar convencer-nos da contemporaneidade dos mesmos — e os vai colocando horizontalmente sobre seus pares em pé, estes companheiros de segredos...”
De “Os passageiros”

Três amores, de mundos díspares; três mundos paralelos, simultâneos.
Múltiplos personagens coadjuvantes, com suas vozes invisíveis.
Fragmentos de um romance, ou melhor: romance em fragmentos.
Zuleika dos Reis

Zuleika dos Reis, paulistana, e-treia na literatura com Poemas de azul e pedra (1984). Em 1989 publica Espelhos em fuga, pela Editora Objetiva; em 2008, Flores do outono, pela Editora Arte Paubrasil; Sonetos no outono de 2018, pela Scortecci Editora; pela mesma editora, em 2022, Nos campos minados alguma canção e, em 2023, Cela de estar e Todos os bichos são iguais. Participa de As quatro estações, haicais (1991), e da Antologia do haicai latino-americano (1993), ambas pela Aliança Cultural Brasil-Japão / Massao Ohno Editor; também de Natureza — berço do haicai (kigologia e antologia), 1ª edição em 1996, livro-referência para haicaístas, organizado por H. Masuda Goga e Teruko Oda; em 2021, da antologia As mulheres poetas na literatura brasileira, pela Editora Arribaçã, organização de Rubens Jardim. Sua poesia é apresentada por Nelly Novaes Coelho no Dicionário crítico de escritoras brasileiras (2002), pelo selo Escrituras.

Serviço:

Hidra Inofensiva Para Heroísmo Nenhum
Zuleika dos Reis

Scortecci Editora
Contos
ISBN 978-85-366-6628-0
Formato 14 x 21 cm
116 páginas
1ª edição - 2024
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