PANDEMIA: O MEDO E O RISO NA QUARENTENA / Romildo Guerrante
Sabe-se pouco desse vírus, mas se sabe que as mãos vão ao rosto 24 vezes a cada hora. Mão que bate na máscara não ofende o nariz. Pois é, tem pesquisa pra tudo. Tem pesquisa até no esgoto para localizar vírus inativos que denunciem a presença da Covid-19 no bairro onde for coletado. Os que não gostam de máscaras também não gostam de guardar distância. Provavelmente também não lhes agrade lavar as mãos. Nem é porque não gostem, mas porque não lhes deram educação sanitária. Pra quê? O país não trata os esgotos de mais da metade da população. Joga tudo nos rios e no mar. Fazem tudo isso e reclamam da trabalheira que dá a higienização de roupas, sapatos, compras. Queixam-se da demora da permanência do vírus entre nós, estão todos muito ansiosos para que tudo volte à “normalidade”. Enquanto não vem essa ansiada normalidade, acomodam-se na Mureta da Urca, ponto de entrada das invasões francesas, ícone da resistência contra a cautela no trato com o vírus que veio de longe.
Este livro nasceu nas crônicas do confinamento que produzi semanalmente ao longo de quase dois anos para o blog Quarentena News. Elas começaram falando do pavor com a chegada da pandemia ao país. Falando com a seriedade que o assunto pedia. Mas, a partir de certo momento, as autoridades brasileiras desconsideraram a possibilidade de tratar a sério uma pandemia mundial que estava matando milhares de pessoas diariamente no mundo inteiro. O próprio presidente da República, interessado talvez em vender remédios para malária como se fossem preventivos da Covid-19 – a mais perturbadora doença surgida desde a descoberta da Aids, nos anos 80 –, tratou de fazer pilhérias com a dor dos brasileiros. Resistiu, posteriormente, à ideia de importar as vacinas surgidas num enorme esforço da ciência mundial e, com isso, atrasou o programa de vacinação. Ouviu sabe-se lá quem e insinuou que as vacinas seriam capazes de transformar as pessoas em jacarés. Tratou de forma grotesca um assunto sério. Uma das alternativas de quem tinha responsabilidade de escrever sobre o assunto, e dispunha de espaço para isso, foi ridicularizar o comportamento dos negacionistas que o acompanharam nas pilhérias, uma grande salada de informações grotescas para confundir o povo e prejudicar o combate ao vírus. Mas eles foram vencidos pela pertinácia da maioria dos brasileiros e pela fé do povo na Ciência. O riso nessas crônicas foi apenas um dos caminhos para vencer a ignorância e a má-fé. Optei por esse caminho. O livro nasceu assim.
Romildo Guerrante
Romildo Guerrante é jornalista há mais de 50 anos. Fluminense de Cambuci, graduou-se em Comunicação pela UFF em 1974, depois de abandonar sucessivamente o curso de Filosofia da UFRJ e o curso de Direito da Cândido Mendes. Passou 20 anos no Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, como repórter, redator e editor. Antes de ir para o JB, trabalhou 15 anos no Banco do Brasil. Lecionou jornalismo na Universidade Plínio Leite, em Niterói. Foi assessor de imprensa/gerente de comunicação de diferentes empresas e instituições. Atuou em media training, roteirizou e dirigiu vídeos institucionais. Participou de alguns livros de crônicas e também de poesia. Tem um livro publicado, Passageiro da memória. Editou durante 10 anos a revista Bio, da ABES. Nos últimos 15 anos, tem-se dedicado também ao fotojornalismo e à fotografia de natureza. Mora no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, é casado com a também jornalista Franca Di Sabato, tem um casal de filhos e uma neta.
Serviço:
Pandemia:
O Medo e o Riso na Quarentena
Romildo Guerrante
Scortecci Editora
Crônicas
ISBN 978-65-5529-816-1
Formato 14 x 21 cm
92 páginas
1ª edição - 2022