TRAGÉDIAS / Tarcisio Lage
O que leva alguém a ficar acompanhando a vida dos outros pela Internet e acessando o tal de Twitter o tempo todo, para saber bobagens e mesquinharias da vida alheia? Desde que ouvi falar desse troço fico pensando em como um baita instrumento de comunicação e de informação é usado nem para o bem nem para o mal: para baboseiras, imbecilidades, superficialidades. Mas ao mesmo tempo penso: não é de se admirar, já que o programa de TV com maior audiência no Brasil chama-se Big Brother, Grande Irmão, e consiste em ficar vendo um bando de exibidos falando e fazendo bobagens. E pior: a pessoa que participa de um programa desses passa a ser figura famosa, especialista em tudo. "Ex-BBB" torna-se o principal item do seu currículo. Tenho a impressão de que twitteiros e telespectadores do BBB são os mesmos (e tem como não usar?), tenho umas birras contra certas coisas que ela torna moda. Nunca entrei, também, no Facebook. Quando recebi os primeiros convites, imaginei que estavam me mandando um vírus. Mas nem por isso fico livre de besteiras internéticas. Uma moça me mandava todas as semanas fotos de crianças desaparecidas no Brasil inteiro, e eu ficava imaginando se ela pensava que eu ia sair por aí olhando cada criança e procurando compará-la com fotos de desaparecidos. Outra me parecia já ter sido vítima de todas as desgraças do mundo: foi contaminada por uma lata de refrigerante com mijo de rato, assaltada não sei onde, enganada na loja tal, recebeu dinheiro a menos de troco numa outra, teve intoxicação alimentar depois de jantar no restaurante tal... Não fosse tão nova, eu diria que Guimarães Rosa se inspirou nela para escrever que viver é perigoso. E aquelas mensagens religiosas? Deus cuida de você o tempo todo. Jesus te ama. Agradeça. E há os textos apócrifos. Alguém escreve babaquices, tasca o nome de algum escritor e espalha por aí. Descubro agora um grande parceiro nesta irritação, o jornalista e escritor Tarcísio Lage, que trocou as desgraças da vida de jornalista no Brasil por aquele frio danado da Holanda.
Já li romances dele e gostei muito. E me deliciei lendo estes textos que com um toque de mau-humor fazem uma crítica bem humorada desse besteirol todo, através de pequenas "tragédias" pra lá de gregas, talvez universais.
Mouzar Benedito
Na pausa, enquanto escreve seu quarto romance, Tarcisio Lage teclou estes contos curtíssimos, alguns deles menores que um Twitter limitado a 140 toques, outros um pouco maiores, mas que caberiam perfeitamente no Facebook. Há gente que considera os dois verdadeiras pragas da internet. Circulam no Twitter e no Facebook, entre algumas boas tiradas, um vendaval de besteirol, de lugares comuns, de soluções empacotadas para todos os problemas da humanidade com ares de sentenças divinas. Estas Tragédias podem ser um antídoto para os que estão intoxicados com tantas certezas. Para outros, o veneno da dúvida.
Serviço:
Tragédias
Tarcisio Lage
Scortecci Editora
Contos
ISBN 978-85-366-1928-6
Formato 12 x 18 cm
48 páginas
1ª edição - 2010