GESTOS DE CADA LUGAR / Marcos Quinan



Poemas baseados na vivência e itinerância do grupo de palhaças LAS CABAÇAS pelo País, principalmente no Nordeste e na Amazônia publicados no Blog Las Cabaças e do autor em seus mais de quarenta anos de trabalho na região Amazônica. Um desvendamento de histórias com expressões e modos semeados por personagens contatados, num desvendamento de costumes, gestos e simplicidade de comunidades sertanejas, quilombolas, indígenas, beiradeiras e ribeirinhas.

“espero vocês
debaixo duma mangueira
com a cuia de farinha
e peixes na frigideira”
o anônimo

Primeiro eram duas meninas — de nomes Marina e Juliana — virando Bifi e Quinan só pra fazer palhaçarias de fora a dentro — sobretudo adentro — desse Brasil diverso. De longe o pai poeta acompanhava em vigia de amor e orgulho os passos das artistas educadoras a curar um cadinho todas as gentes que daquela uma cura necessitavam (a arte de educar, iluminar e sarar cavando sorrisos no coração das pessoas). E não é que daquelas viagens, já por si tão impregnadas de poesia (a poesia pura, aquela que nem carece palavra porque forjada no bronze da existência, versada na afetividade dos encontros e tanto mais), nasceu este Gestos de cada lugar. Coisas do Marcos Quinan, né? — Este múltiplo artista com trânsito escancarado em tudo o que seja arte (música, literatura, pintura, teatro e tanto, tanto mais). Assim foi que a vivência das meninas, o caminho das intrépidas palhaças do “Las Cabaças” em turnê pelo país, se foi passando da memória de andanças por elas vivenciadas à tinta do poeta Quinan transmutadas em poesia para nos contar um tantão de coisas, lugares e pessoas: gente de cá e de lá como os vaqueiros Juvêncio, Aníbal, Joque, Boaventura e Jacaré; Zé Bejê, os Chicos Cipó e Tormim; Dona Luzia a aparar meninos; Dona Kaluka, Dona Davinha; Clicia e Enrico a receber amigos com gengibirra e filhote na brasa, Joãozinho Gomes a distribuir letras e poemas; Brasil de botos e caruanas; Brasil de lua e céu virando poesia muda, de só recitar com os olhos e a alma; Brasil de fazer a prisão do Boi Malhadeiro criar cordões; mas também Brasil de piuns e maruins; dos arawetés, os parakanãs, xikrins e mais e mais (cada vez menos); Brasil do Círio de Nazaré; Brasil de Icoaraci, do Magazão, Curiaú e Pacoval; do Marupá; do Marajó, do Cruzeirinho e da Mulher Cheirosa; Brasil do caldo de turu; de Cachoeira do Arari e da cachoeira do Aruã; do Solimões e Alter do Chão; aí eu escuto lundus, siriás, marabaixos, chulas e carimbós; tanta coisa que só lendo mesmo — lendo e se esbaldando de lavar nossa alma brasileira. Emprestando as palavras do Quinan: “uma história me achou parecendo que era eu”. O que não era eu, sinto que preciso buscar. E isso tudo deu nisto: um livro mais que de poemas — mosaico de brasilidades. Pena que acabei de ler. Pois acabo de ler e aí o Brasil fica todo ali, na porta.
Ponham o Brasil no lugar, vai! Telelém... telelém... telelém...
Celso Viáfora

Serviço:

Gestos de Cada Lugar
Marcos Quinan

Scortecci Editora
Poesia
ISBN 978-85-366-6713-3
Formato 14 x 21 cm
180 páginas
1ª edição - 2024
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