O QUE NÃO CALOU DENTRO DE NÓS / Paulo Rodrigues (org.) / Luiza Cantanhêde (org.)

A poesia contemporânea do Vale do Pindaré é palavra plantada no chão da pluralidade de vozes. O que não calou dentro de nós, antologia nascida no solo do Vale do Pindaré, é uma obra atravessada por seis vozes, contudo, de alguma forma, percebemos a força do chão, das águas, da existência e da luta diária do homem, temas plantados dentro da linha discursiva de cada autor. Os poetas que fazem parte do livro lançam um olhar plural sobre o humano e o simbólico. Anna Liz, Carlos Vinhorth, Evilásio Júnior, Luis Henrique Sousa Costa, Luiza Cantanhêde e Paulo Rodrigues perceberam a importância de mostrar o que vem sendo produzido no Vale do Pindaré, ampliando a produção da literatura maranhense contemporânea, fazendo a poesia do interior romper os limites geográficos. Uma poesia que leva na planta dos pés o chão que pisa, “palavra de coisa vivida”.
Evilásio Júnior

Intercruzamento de vozes - Do que se trata a coletânea O que não calou dentro de nós? Inúmeras são as possibilidades de resposta, contudo, talvez o que motivou este apanhado de vozes tenha sido a intuição de que “um galo sozinho não tece uma manhã” (João Cabral de Melo Neto). Do lugar de cada um, de cada uma, lançamos canto/verso, que, por sua vez, chame outro “que apanhe o grito de um galo (poeta) antes” e o lance, e assim por diante, para que a manhã/poesia contemporânea se vá tecendo entre toda gente. Ainda, nessa perspectiva do poema de João Cabral, podemos dizer que aos e às poetas, ora reunidos e reunidas, interessa apontar, por meio da poesia, um caminho mais justo para a vida em sociedade, como podemos sentir em seus versos: “livro-me dos poemas para / não enlouquecer, / mas loucura mesmo é / não escrever.” (Escrever para quê, Anna Liz); “embora / as palavras vertam / notícias fúnebres // os poetas sangrem / pelas feridas humanas” (Sobre a lucidez do asfalto, Carlos Vinhorth); “enquanto meu filho dorme / sem ouvir os gemidos do mundo / em algum lugar / redes prendem homens como feras” (A rede em que meu filho dorme, Evilásio Júnior); “Não serei injusto contigo / Meu verso não esquecerá teu nome / Porém, doravante acuso / Toda injustiça e dor que há na fome” (Adeus, minha musa, Luis Henrique Sousa Costa); “Sou esse deserto de poeiras / longínquas. / Sou água na cabaça, o arame / farpado, cercando o latifúndio / de sol e estrada”. (A cabaça, Luiza Cantanhêde); “o velho desamassa / uma camisa com a mão / e chama os bichos. / para uma ceia / com as mãos / vazias.” (São Francisco, Paulo Rodrigues). Assim, a intenção desta reunião de vozes de poetas do tempo presente não é só construir um coro — uma voz uníssona —, mas também, e sobretudo, produzir um registro crítico-afetivo sobre o agora.
Anna Liz - Poeta, cronista e presidente da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil — Coordenadoria Maranhão (AJEB/MA).

Serviço:

O Que não Calou Dentro de Nós
Antologia Poética
Paulo Rodrigues (org.)
Luiza Cantanhêde (org.)
Scortecci Editora
Poesia
ISBN 978-85-366-6574-0
Formato 14 x 21 cm
88 páginas
1ª edição - 2023