MARIADADÔ / Marlene Mourão

Marlene Mourão, a quem carinhosamente chamo de "Peninha", é uma artista cujos talentos ultrapassam as linhas de normalidade. Considero assim porque acredito, primeiramente, que exista essa linha, muito tênue por sinal, da mesma forma que creio piamente que nossa artista tenha passado na fila dos talentos muitas vezes antes de vir para este nosso plano terrestre - talvez por ser pequenina tenha conseguido ludibriar o guardião dos dons artísticos. Dentre muitas outras criações, Peninha conseguiu forjar um pequeno-grande universo, dando vida a traços rabiscados num papel - será que ao acaso? - e o resultado foi a MARIADADÔ, uma senhorinha que consegue dizer coisas sem de fato ter dito, com suas respostas atravessadas e o jeito matuto de cutucar a onça sem ter uma vara - nem que fosse uma curtinha pra cair bem no conto. Conheci Mariadadô nessa versão ressuscitada, após os 28 anos de sono profundo. Mas, lendo as tiras que lhe deram origem, tenho a impressão de que, como na velha e conhecida história da Bela Adormecida, a princesa acorda como se nem um ano sequer tivesse passado, do mesmo jeitinho e certamente com a mesma beleza (talvez uns quilinhos a mais na sua bagagem). Ela nunca vem sozinha, pois tem uma família: Zetonhi que é um marido preguiçoso e uns rebentos espalhados nas tiras, e é pra eles (ou pra nós) que ela sequer se dá ao luxo de responder meia ou uma dúzia das perguntas que lhe são feitas. Prefiro até pensar que essa seja a intenção da insolente Mariadadô.
HUMOR? Travaglia (1990) apresenta-nos uma ideia que humor é uma espécie de denúncia, um meio de serem reveladas outras formas de enxergar o mundo e a realidade que nos cerca, a conservação do equilíbrio social e psicológico, desarmando falsas estabilidades. Mariadadô, ou a "Maria das nossas dô", talvez seja uma gostosa forma de desintoxicar o cotidiano de coisas e fatos. A forma extravagante como encontro respostas não respondidas e formas informais é o motivo que me habilita a fazer essa rápida reflexão e um chamado para que você também aprecie essa obra. Tendo muito a dizer, é possível que minhas palavras não levem a lugar algum, suscitem até dúvidas, então, fica desde já o desafio para que cada leitor descubra as próprias respostas sobre a ilustríssima Mariadadô, e descubra se estou num momento de sóbria lucidez ou de fato em uma embriaguez textual.

José Gilberto Garcia Rozisca é Formado em Letras pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS/CPAN, 2006), é profundo admirador da arte, dos fazedores de artes (no sentido amplo da palavra) e seus produtos criacionais. Possui trabalhos culturais assinando e/ou participando no campo da poesia, do teatro e da dança.

Serviço:

Mariadadô,
O Livro
Marlene Mourão
Scortecci Editora
Cartuns
ISBN 978-85-366-2741-0
Formato 22 x 15 cm 
148 páginas
1ª edição - 2012

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