À MARGEM / Patrícia Lobo

Em mundos distintos, o personagem J.J. fragmenta sua vivência em três grandes metrópoles: São Paulo, Londres e Nova Iorque. A cada experiência, descobre um universo introspectivo, profundo e sensível. Joga-se em relacionamentos conturbados e cheios de dúvidas, levando a desfrutar de um período marcante e deixando registrado um traço forte de sua personalidade: uma sinceridade rara e excêntrica que quase sempre resulta em frustrações.

São 13h57. Você acaba de sair da Rua Augusta e cruza a Avenida Paulista na altura do número 2189. Você entra na livraria às 14h40. J.J. sente você tocar as lombadas de exatos 13 livros. Durante 14 minutos. Até que, por fim, como era de se esperar, você tateia neste exato momento este livro. J.J. percebe quando você toma este livro e folheia suas páginas. J.J. sabe que você acaba de se interessar pelo que leu. Você começa a pronunciar o nome dele: J.J. Persegue com pinceladas de olhar a caminhada de J.J. pelas ruas de São Paulo. Neste instante, J.J. está descendo a Rua Augusta. Chega em casa. O relógio marca 3h17 e lá está ele trabalhando.

E enquanto trabalha, J.J. acompanha o leve inclinar de suas sobrancelhas a virar cada uma destas páginas, em pé, na livraria. Então, você segue J.J. pela noite de São Paulo. Sim. Você fez bem. Agora J.J. está tranquilo, na sacola, no banco traseiro do seu carro. Mas enquanto você dobra a esquina da sua casa, J.J. continua sua jornada por Londres. J.J. acende um cigarro. Você reabre as páginas do livro. Você acende um cigarro. J.J. anda pela Times Square. Agora seus olhos e os de J.J. finalmente se encontram. J.J. sabe bem o que você quer. Então, relaxe e continue a ler a sua história. A história de J.J.

A narrativa obsessiva de Patrícia Lobo não dá repouso ao leitor. Conduz-nos todo o tempo por um mundo de imagens em caleidoscópio, estilhaços da realidade urbana que trafegam no interior e no exterior dos personagens. Colagens da cultura pop e outras tantas referências do repertório visual das grandes metrópoles atravessam ruas, avenidas, bares, hotéis, escritórios, em meio a citações de Sam Shepard e John Fante. Entre Silvia e Estela, entre São Paulo e Londres, e culminando com a belíssima Andressa, a trajetória amorosa de J.J. desdobra-se como uma morte insistentemente adiada.

Ou seria um casamento que ainda se realizará? Que a morte o separe: com esse bordão repetido em praticamente todas as aberturas de capítulo, e aos poucos ligeiramente modificado, Patrícia Lobo nos conduz em um misto de hesitação e frenesi. Sugere-nos tanto a expectativa da morte iminente do personagem, quanto a sua redenção por meio de um inesperado casamento. Ou de uma revelação cruel sobre o amor? É nesse tênue fio, entre a expectativa trágica e a exaltação de um futuro ainda a ser criado, que a sua narrativa nos prende e que J.J. nos guia. Cabe ao leitor saborear o desfecho que Patrícia Lobo nos reserva. Ou melhor: que a vida reserva para você, que lê J.J., agora e em silêncio.
Rodrigo Petronio

Patrícia Lobo é paulistana, nascida em 1982. Viveu e estudou em Londres, onde também escreveu uma parte de seu primeiro romance, À Margem. Formada em Publicidade e Propaganda, trabalha no mercado editorial como designer há anos, passando pelos títulos, Revista IstoÉ, Revista IstoÉ Dinheiro, Revista IstoÉ Rural, Revista UM, Revista Náutica, Revista Pack e Brasil 247 (o primeiro Jornal para iPad no Brasil). Colabora com textos em editorias de cultura. Também trabalhou em produções teatrais e cinematográficas.

Serviço:

À Margem
Patrícia Lobo
Scortecci Editora
Ficção
ISBN 978-85-366-2547-8
Formato 14 x 21 cm 
128 páginas
1ª edição - 2012

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