LUIZA LIMA - AUTORA DO LIVRO "BÁLSAMOS - v1"

Luiza Lima é Professora recém-aposentada. Exerceu a função que deveria ser a mais respeitada, durante trinta e oito anos — alguns deles concomitantes na Prefeitura e no Estado de São Paulo, onde reside, desde 1985. Atuou nos cargos de professora da primeira infância à terceira idade e como Diretora e Coordenadora Pedagógica. Nasceu na Água Branca, Município de Poção de Pedras (MA), em 08 de abril de 1964. Filha de Maria Raimunda de Sousa Lima e João de Paiva Lima, têm seis irmãs, quatro irmãos, quinze sobrinhas, nove sobrinhos, dez sobrinhas-netas, dezessete sobrinhos-netos e uma sobrinha-bisneta. É mãe da Estela Safira e do João Filipe, com quem aprendeu a amar ainda mais a dona Mariinha, ao experimentar o tamanho do amor que tinha por suas filhas e filhos e o significado de amor incondicional. Mulher, como tantas espalhadas por este mundo, que não medem esforços para oferecer um mundo menos hostil para suas crias. Chega aos 60 anos, consciente do dever cumprido nos vários papéis exercidos em sua trajetória, carrega, além das marcas do tempo, um coração cheio de gratidão pela família, profissão, companheiras e companheiros, amigas e amigos e cada caminhante que cruzou seu caminho. Pretende fazer da aposentadoria um exercício de afrouxamento de todas as amarras e, enfim, olhar para si e realizar todos os sonhos possíveis.

Bálsamos
Este livro, autobiográfico, sintetiza a história de Luza, menina que nasceu num pequeno povoado chamado Água Branca, no município de Poção de Pedras, Maranhão. Mudou-se para São Paulo aos 21 anos. Sua pele, acostumada com forte calor, mesmo impedida pelo vitiligo de ficar exposta ao sol, doía com a temperatura gelada. O paladar rejeitava as frutas que só tinham nomes parecidos. Andar pelas ruas cheias de carros lhe tirava o fôlego de tanta poluição. O português maranhense, considerado um dos mais bem falados, passou a ser motivo de galhofas. Seu nome Luiza, antes apenas letras em um documento, era adotado e, por muito tempo, parecia tratar-se de outra pessoa. A jovem nem percebeu que sua brava luta pela sobrevivência lhe transformou a tal ponto de fechar os sons das vogais, não sentir tanto frio, descobrir frutas similares às do Maranhão, tendo trocado a laranja-pera pela laranja-baía, cujo sabor agrada seu paladar. Casou-se, teve um casal de filhos, construiu uma carreira na Educação da Prefeitura Municipal de São Paulo. Durante a pandemia de Covid-19, a mulher Luiza olhou mais profundamente para si e percebeu os escombros que foram se formando em seu ser. De repente todas as dores plasmadas saíram da ordem imposta. Como a Luza/Luiza sempre esteve no comando, fez um combinado de colocá-las para fora organizadamente. Decide escrever um livro chamado Bálsamos. Abre todas as gavetas que havia trancado, narrando histórias vividas com sua mãe, pai, irmãs, irmãos, parentes, amigas, amigos, vizinhas, vizinhos, lua, palmeiras e igarapés. Durante a escrita chora todos os lutos, dores, desilusões, decepções e saudades. Após essa expurgação, enfim, se permitirá lembrar-se apenas do que foi, é e continuará sendo Bálsamos. Consciente da inteireza da vida com momentos de dissabores e outros cheios de alegrias e gratidão.

ENTREVISTA

Olá Luiza. É um prazer contar com a sua participação no Portal do Escritor.

Do que trata o seu Livro?
O livro Bálsamos conversa com muitas histórias de pessoas oriundas de grandes famílias do nordeste brasileiro, moradoras de pequenos povoados onde aprendemos desde cedo que mesmo estando longe dos pais, outros olhos nos acompanham e cuidam – É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Quando, aos 21 anos, depois de entender que não queria apenas sobreviver, após a morte do meu Pai, decidir recomeçar, me mudando para São Paulo. Distante de tudo que me era familiar e seguro. Enfrentei muitos desafios com altivez e a certeza que através do amor e exemplos deixados pelos meus pais, mesmo com um breve convívio – com minha mãe até os 10 e com o Papai até os 18 anos, conseguiria seguir íntegra, sem esmorecer na dura caminhada e venci. Trouxe parte da família para morar comigo, casei, tive um lindo casal de filhos que me dizem através das suas condutas que consegui fazer um bom trabalho. Realizei o grande sonho de ser Professora e encontrei pessoas maravilhosas que seguimos de mãos dadas, não apenas ao desenvolvermos projetos incríveis na Educação Municipal da Cidade de São Paulo, onde exerci vários papéis, formando uma grande rede de amizade e bem querer por onde passei. Finquei bandeira na periferia de São Paulo, onde milito por um mundo melhor com a visão dos ensinamentos da teologia da libertação, crendo ser a forma como Jesus de Nazaré queria.
Ao invés de enfatizar as dores da travessia, optei em descrevê-los como ensinamentos que forjaram o que sou, enaltecendo pessoas e situações que foram refrigérios e confortos em minha vida, motivo de gratidão profunda.

Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?
Mesmo sendo um projeto antigo, Bálsamos nasceu a partir de uma provocação do Grupo Cirandeiras da Escrita que participo semanalmente, desde a pandemia. Escrevi um texto chamado espelho que me fez olhar para a minha vida e com o incentivo das amigas do grupo, meu livro começou a ser gestado. O maior objetivo de Bálsamos é apresentar meus ancestrais aos seus descendentes que perderam a oportunidade de conhecê-los e beberem de fonte tão inspiradora. Como é uma escrita real com muito amor, dor e risos, alcançará muita gente que busca bálsamos para suas feridas diárias.

Fale de você e de seus projetos no mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
Sou apaixonada pelos livros, tive acesso a eles tardiamente e talvez por isso os valorize tanto. Um sonho de infância: Ter sempre um livro novo aguardando a finalização da leitura. Aprendi que podemos tirar vendas e encher o mundo de vidas e possibilidades, confrontar medos e certezas absolutas, através de boas leituras.
Brinco que as histórias em mim, brigam para vir à tona e ultimamente tenho sentido medo delas se perderem na minha memória e durante a pandemia iniciei a escrita de histórias vividas na educação. A ideia era escrever 100 histórias em homenagem ao centenário de Paulo Freire. O pós covid-19, foi complicado para muitos de nós, especialmente para quem se importa com a dor do outro, fui muito afetada e mesmo com 70 histórias escritas, não tive ânimo para finalizar e perdi o bonde da história: o Centenário do amado Paulo Freire passou, sem a minha homenagem.
Posso dizer que tenho três projetos em mente: Finalizar o livro para o Paulo Freire, resgatar uma história que aconteceu no Município onde nasci na época da ditadura militar em formato de cordel e escrever uma história fictícia.
Quanto à frase citada: sou mãe de um lindo casal: Estela Safira e João Filipe, minhas principais obras e em quase todas as escolas por onde passei, propus projetos de plantação de árvores em uma dessas escolas, não tinha espaço de terra para as crianças brincarem e na Rua de baixo tinha um espaço onde as pessoas descartavam móveis sem uso. Após solicitar a limpeza para a prefeitura, fizemos mutirão com as famílias e plantamos mudas de árvores e hoje tem uma mini floresta, em outro Centro de Educação Infantil, no pretexto de sair dos muros da escola, fizemos um Projeto, cujo nome era “Quem Planta a Vida Encanta – Minha Rua Têm Palmeiras”. O nome da Rua é Canção do Exílio. Ainda restam algumas palmeiras. 

O que você acha da vida de escritor em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
Estou experimentando a poucos dias o outro lado, sempre fui amante de livros e alguns escritores, são meus mestres. Tem sido emocionante ouvir os comentários de quem já leu Bálsamos e estou animada com os comentários. Sei que algumas pessoas não têm hábito de leitura, mas acredito que alcançarei algumas leitoras e leitores por curiosidade e amizade, vou torcer muito que sejam picados pelo desejo de continuar lendo outros livros. Ouvir de uma pessoa que não me conhecia antes da leitura que o meu livro é fofo, do tipo que se sente vontade de sentar-se na almofada para se deliciar com histórias cheias de amorosidades.

Como você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
Através da escritora Ana Bretas que é a responsável pela criação do grupo Cirandeiras da Escrita.

O seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus leitores?
Bálsamos é o tipo de livro capaz de dialogar com suas histórias e tocar o que há de mais sublime em você. Leitura fácil, contagiante, cheia de esperança. Transborda amor, amizade e companheirismo.
Você, nunca está só. Por mais que a solidão lhe bata à porta e lhe faça companhia muitas vezes, não se apegue a ela, nada como uma boa amizade para compartilhar nossa vida. Posso dizer com convicção: existe muita gente que merece o seu carinho e cuidado. Amo de paixão muitas pessoas e não tenho dúvidas da reciprocidade.

Maria Cristina Andersen
Revista do Livro

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