JOSINA NUNES DRUMOND (JÔ DRUMOND) - AUTORA DO LIVRO "TRILHAS DO SERTÃO"

Josina Nunes Drumond (Jô Drumond) Nascida na fazenda da Charneca, no sertão de Minas, está radicada em Vitória (ES) desde 1989. É professora universitária aposentada, pesquisadora, tradutora juramentada, poeta e artista plástica. É PhD em Literatura Comparada, Doutora em Semiótica (subárea Literatura e Artes Plásticas), Mestre em Literatura, pós-graduada lato sensu em Literatura e em Arte Barroca, graduada em Letras, Artes Plásticas e Langue, Civilisation et Littérature Françaises (França). Ganhou quatro bolsas de estudos na França, sendo uma na Universidade de Sorbonne, em Paris, e três no Centro de Linguística Aplicada da Universidade de Franche-Comté, em Besançon. É membro efetivo da Academia Feminina Mineira de Letras, vice-presidente da Academia Espírito-Santense de Letras e da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras. É membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e do Conselho Estadual de Cultura. Tem 26 livros publicados (ensaios, contos, crônicas, poemas, literatura infantil) e diversas publicações em antologias, jornais, revistas científicas, anais de congressos nacionais e internacionais.

Trilhas do Sertão
O livro Trilhas do sertão insere o leitor no “Brasil profundo” por meio de causos colhidos na simplicidade do falar caipira. Os contos não são marcados pelo ficcional: são reais. O leitor é conduzido pelos caminhos das Gerais e se encanta com histórias carregadas de sabedoria, mansa rebeldia e matreirice sapeca, contadas na linguagem espontânea do sertanejo. Vale ressaltar a adequação da linguagem ao cenário, aos personagens, e também a singularidade estética da escrita, marcada pela simplicidade, o que aproxima o leitor do contador de histórias. Vale ressaltar também que a autora é oriunda do sertão de Minas, descendente dos Guimarães e especialista na obra de Guimarães Rosa.
Com memória lacunar, ressuscito tempos idos, bons fragmentos vividos, na fazenda da Charneca. Nos bons ares campesinos, pela primeira vez, meus pulmões se inflaram; nas bucólicas paragens, a luz dos tempos tocou minhas intactas retinas; naquele paraíso, plantado no coração do Brasil, meus pequeninos pés começaram a palmilhar a vastidão do mundo. Foi aí que nasci, cresci e vi filharada em mutirão, todos juntos, reunidos na colheita do algodão. Oh! Como me lembro do engenho de cana, da doçura da caiana, dos bois de canga atrelados girando sem destino, sem cessar, e da garapa jorrando, adoçando meu olhar. Na casinha do tear, ao lado do paiol, minha mãe tecia colchas, mantas e sonhos a nós nunca revelados. Coloridos ou não, seus sonhos se esvaeceram no vão da vida e do tempo. Meu pai não sonhava, suava. No cabo da enxada, no fio da foice, no fio das horas foi-se uma vida renhida. Não existe mais fazenda, não existe mais engenho nem carda, roca, tear. De minha mãe restam velhas fotos encardidas e as colchas coloridas que aquecem meus invernos. De meu pai restam a força do labor, a voz de trovão e a cor do silêncio. De ambos, uma grande saudade.

ENTREVISTA

Olá Josina. É um prazer contar com a sua participação no Portal do Escritor
 
Do que trata o seu Livro?
O livro Trilhas do sertão: caminhos e descaminhos têm como ambientação o sertão mineiro, arraiais e periferia de centros urbanos para onde normalmente os sertanejos migram. Trata-se de contos baseados em fatos, que resgatam usos, valores e costumes de meados do século passado. Seus protagonistas são pessoas comuns da região, envolvidas em aventuras e desventuras cotidianas.
 
Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?
Dizem que todo mineiro é fabulista por natureza. Nasci no sertão das “Gerais” e cresci ouvindo os “causos” de minha terra. Além disso, tenho parentesco, pelo lado materno, com o grande escritor Guimarães Rosa, que retratou tão bem o Brasil profundo. Não posso negar a raça.
É destinado a todo e qualquer público adulto.
 
Fale de você e de seus projetos no mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
Comecei a publicar meus livros tardiamente, depois de aposentada como professora. Escrevi 28 livros em menos de duas décadas. Meu 28º livro é um romance, também ambientado no sertão de Minas, e já está sendo editorado pela Scortecci.
Meu doutoramento, pela Puc/SP teve como objeto de estudo o neobarroco em Grande Sertão:veredas, de Guimarães Rosa. Minha tese foi publicada em formato de livro, intitulado As dobras do sertão: palavra e imagem. Em meu Pós-doutorado, na UFMG, abordei três ícones da Literatura brasileira que tiveram suas obras primas com minha temática preferida: Os sertões, de Euclides da Cunha, Vidas secas, de Graciliano Ramos e Grande sertão:veredas de Guimarães Rosa. Minha pesquisa também foi publicada em formato de livro, com o título Ecos do sertão: sertões – vozes do árido, do semiárido e das veredas. Nesse estudo comparativo, analisei a adequação da linguagem e do estilo dos 3 escritores com relação ao que é narrado ou retratado.
 
O que você acha da vida de escritor em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
Às vezes me imagino nadando contra a correnteza, sobretudo nessa época virtual, em que as redes sociais propiciam leituras rápidas e atraentes. Mesmo assim vou continuar nas trilhas literárias pelo prazer da leitura e da escrita.
 
Como você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?

Quando estudei na Puc de São Paulo fiquei conhecendo o trabalho de vocês e na época publiquei, salvo engano, dois livros pela Scortecci. Um deles, de ensaios literários, intitulado Solimultidão, em 2010.
 
O seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus leitores?
A meu ver, todo livro merece ser lido assim como todo filme e toda peça teatral merecem ser assistidos. Mesmo que não seja de nosso agrado, pode-se extrair sempre algo de proveitoso nas obras literárias, teatrais e cinematográficas.

Maria Cristina Andersen
Revista do Livro

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