VERSOS VERDES E VERSÕES / José Augusto Fontes

Poesia verde, cheia de sentimento, com versões que transbordam e abordam desde o mais simples ao mais misterioso do ser e do amor, da ecologia e da preocupação social, da flor e da dor. Sensibilidade marcante e poética envolvente, com passeios pelo íntimo inesgotável e pelo exterior infinito, beirando matas, sertões, encantos, paixões e preocupações sociais. Amor verdinho e versões palpitantes. Poemas desenhando belas e cativantes sensações.

CHICO DA FLORESTA
(homenagem a Chico Mendes, morto em 2008)

O mote do seringueiro é a esperança de semear a vida
É um bom sentido do viver na soberana moldura verde
O látex da questão ideal não é ser contra isso ou aquilo
Mas a favor de respirar profundo, de um cultivar perene
Nada fácil nem dócil, o prazer da conquista está na luta
Tudo simples, como o amor à sombra de uma samaúma
Como percorrer um varadouro, todo dia a labuta solene
Na ferida cortada, a semente do Chico reproduz a verve
Mateiro, castanheiro, velho e rapaz, poesia de todo estilo
Passou a ver a floresta, a entender o gene, sentir a bruma
Abraçou a causa, a mensagem; proseia e saboreia a fruta
O rio da vida prossegue e o mote do seringueiro o imita
Faz que passa e permanece aqui, ali, remanso e espuma
O balseiro não segura a onda, um rio rega, nada se perde
Gente do mato, bichos da lua, um sol plantado na aldeia
A floresta semeia, o sonho corre pelas veias e ressuscita
Os olhos do mundo se abrem para um grito, para a ideia
A seiva corre matas e águas, espreme os ventos, acredita
Desperta a flor dos sentimentos, é encanto, força e filho
Multiplicação. Vai passando da vida, vai vencer o porvir
A História, o tempo, a escolha simples é gesto de empate
Jeito de viver, de seguir, a bubuia, um deixar fluir, aquiri
Renasceu, colhe-se acalanto, o canto ecoou sem desmate
Nada dissolve a marcha, o tiro lancinante gerou estribilho
A mata recebeu cada lágrima, floresceu e propagou a vida
O sonho navega nos estirões, viaja pelos olhos, vive aqui
Se estica nas altas castanheiras, lança certeza e desnorteia
Toda emoção escorre devagar, feito látex nas seringueiras
Toda borracha tenra pode endurecer, sangrar, gerar, parir
Doce rapadura, mel de dureza, gente sofrida, olho risonho
Gente boa de beiras de rio, de aliança, de alegrias faceiras
Orgulhosa da simplicidade, do compromisso tão fascinante
O mote do seringueiro é a esperança, na beira de um sonho

NASCENTE

No encontro das margens
Os opostos deitaram-se
No leito mesmo
Onde a correnteza indiferente
Misturou os veios
E concebeu o encontro
No leito mesmo

José Augusto Fontes nasceu em Rio Branco (AC). Formado em Letras e em Direito, é poeta e escritor. Escreve desde 1980 em jornais, revistas, coletâneas e antologias locais e nacionais. Seu primeiro livro, Páginas da Amazônia – Proseando na Floresta, contendo contos e crônicas, foi publicado em 2006. Sementes de Poesia na Floresta, de poemas, saiu pela Scortecci Editora em 2018. As duas obras alcançaram mais de 3.500 exemplares vendidos. Sua escrita aborda temas regionais e mundiais, sempre com olhar sensível e estilo apurado.

Serviço:

Versos Verdes e Versões
José Augusto Fontes

Scortecci Editora
Poesia
ISBN 978-85-366-6244-2
Formato 16 x 23 cm
92 páginas
1ª edição - 2022
Voltar Topo Enviar a um amigo Imprimir Home