FAGULHAS / Alcione Zhanini

Considero “Fagulhas” o meu melhor trabalho, nasceu no meu melhor momento e das minhas maiores aprendizagens, vivi dor e saudade pelas perdas e tive a oportunidade de aprender sobre a sobrevivência num dos capítulos mais tristes de toda a humanidade, a Pandemia, o vírus do Covid 19 que levou tantas vidas e veio a este mundo sem se apresentar, tornando-se um dos maiores desafios para a medicina. Durante este trabalho que durou exatos cinco anos, perdi minha mãe, minha grande inspiração e minha melhor amiga, nossa convivência durante sua doença que a fez acamada por quase dez anos, me mostrou o verdadeiro amor da entrega, da dedicação, e me fez ver a força e a coragem de uma mulher que nunca se entregou até seu último suspiro. Também vivi de perto uma estória real, assunto do meu conto que abre “Fagulhas”, só sinto que a personagem já não esteja entre nós, mas me deixou uma lição de vida, pela sua simpatia e bondade. Como disse no início, dediquei uma parte do livro para comentários sobre a Pandemia que nos tirou o direito de ir e vir, nos manteve presos entre quatro paredes e nos obrigou a repensar nossos objetivos, nosso comportamento e como reaprender a viver. Para passar o tempo entrei de cabeça nas poesias que tanto gosto e que me ajudaram a amenizar essa fase que demorava a ir embora, complementei a obra com minhas crônicas e monólogos que falam sobre um novo homem que surge em volta de tantas mudanças e hábitos, a nossa juventude enamorada da tecnologia e sobre o amor, razão do meu dom de escrever.

Senhor, eu estou à espera de um milagre, sinto que ele não depende só de mim, é mais, muito mais, precisa contar com as forças do universo. Outra coisa, esse milagre não precisa, necessariamente, ser preciso, muitas vezes não sabemos que milagre esperamos. O que sentimos é que existe algo muito grande, muito forte dentro de nós e que nos pede mudança, mas que também precisa ser grandiosa. Por isso, por vezes, o silêncio, a tristeza, a escuridão nos tornam infelizes. Um milagre... O que pode representar esse milagre? Ele pode nos trazer a paz e a tranquilidade, um certo alívio que nos proporcione espaço e alegria. Posso falar sem me fazer entender, mas dentro de mim ele sabe do que falo e pode abrir uma janela que me trará a luz que busco de há muito. Sou filha Dele e sei que Ele me ama, sei também que não estou pedindo muito e nada impossível. Estou esperando um milagre, sem ele não posso seguir, porque não sei se terei forças para atravessar o grande rio, caminhar sobre as pedras, manter-me em pé na velocidade do vento. Sem ele, o medo em mim permanece, a coragem não flui, preciso dele para me sentir forte, para desbravar montanhas sem oscilar, para sentir que ganhei tempo para sonhar, que ganhei vida para viver.

A escrita de Alcione Zhanini, como sempre, flui, expondo sua alma, emoções, vivências, com sensibilidade e precisão, transitando tranquilamente na poesia, no conto e na crônica. Gratidão por ler em primeira mão e orgulho de nossa conterrânea de São Caetano do Sul e confreira da Academia Popular de Letras, que, comemorando 23 anos de carreira literária, nos presenteia com um livro que emana amor, prende, energiza e seduz.
Ana Maria Guimarães Rocha - Presidente da Academia Popular de Letras

A escritora Alcione Zhanini é nascida e reside na cidade de São Caetano do Sul, São Paulo. É formada em Letras pela USCS e membro da Academia Popular de Letras da mesma cidade, tendo participado, em 2011, a convite da Prefeitura, do lançamento do livro De Maria a José, uma antologia que conta a história de imigrantes italianos que ajudaram no desenvolvimento e crescimento da cidade. É autora dos livros Buscas e encontros (1998); Versos e reversos (2001); De quimeras à lucidez (2008) e Eu, comigo mesma, os meus e tantos outros (2016). Crônicas e monólogos foram experiências que a impulsionaram para a elaboração de contos e a eterna poesia, uma forma de expressar o lirismo e o amor em suas obras. 

Serviço:

Fagulhas
Alcione Zhanini
Scortecci Editora
Poesia
ISBN 978-65-5529-774-4
Formato 14 x 21 cm 
76 páginas
1ª edição - 2022

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