A VIGÍLIA DOS PEIXES: POEMAS / Heloísa Prazeres

Este é o quarto livro de poemas da autora, organizado em três partes – “nome de família”; “o tempo não detém a vida”; “nossa cabeceira” – Em versos livres, plenos de ritmo, musicalidade, plasticidade, ecoando memórias familiares e referências literárias, pictóricas e religiosas. E, por meio de delicado, refinado e vigoroso labor poético, recria, na sequência dos poemas, o movimento ondulatório do sono em vigília dos animais aquáticos que nos precedem em milhões de anos sobre a face da Terra e nos expõem à força e à fragilidade da condição humana. Esse é o movimento dos poemas-peixes, metáfora original sintetizada no poema que dá título ao livro.

Aqui está A vigília dos peixes, o novo livro de Heloísa Prazeres, trazendo tesouros de uma vasta dimensão existencial na abrangência de tantos mundos. Vale a pena ler esse conjunto de poemas com a tatilidade atenta e sensual dos ouvidos. É preciso escutar a voz sibilina e plena de encantos dos “brilhos insistentes dos vaga-lumes” na poética de Heloísa. São sons e ecos de tempos e espaços rememorados com requinte de sensibilidade, “... minha pátria este burgo agrário/ meus parentes frutos colhidos/ cortados ao meio”. É preciso, insisto, abrir os ouvidos (e quem sabe fechar os olhos) para captar a palavra poética, palavra musical que transgride a fixidez da letra e faz vibrar o coro de vozes nessa dança circular de textos poéticos enlaçados e entrecruzados, inserindo-se como um presente de leitura. Nesse livro, o corpo poético é solicitado para construir a estética das cenas. Então, a reação do corpo vem de onde sai a palavra marcada por uma arquitetura erotizada e significante. O fogo de artifícios de cada sílaba faz, nesse conjunto de poemas, o texto tomar corpo e ecoar na memória sensível do leitor. A vigília dos peixes, prenhe de musical plasticidade da palavra poética, encena uma coreografia que faz “molhar as ideias”.
Edilene Matos

Quando surgiu a voz da poesia na tua alma de poeta? Foi, porventura, a brisa que soprava do Rio Cachoeira, veias abertas de águas e pedras de tua cidade natal, a Itabuna dos cacauais, que levou a adolescente Heloísa às estantes da biblioteca familiar e a beber das fontes cristalinas do seu universo cultural? Com quantas páginas de leitura, com quantas viagens no tempo e no espaço, com quantas pitadas de imaginação e sonho, gestou-se no teu corpo e na tua mente o estado de ser poeta? Os teus três livros de poesia são testemunho desse processo de poetização da biografia. A coletânea Pequena história, poemas selecionados (2014) enfeixa 80 poemas, em três partes indissociáveis e complementares: cidades visíveis, que evocam diversos lugares em diferentes épocas, com o lirismo de um olhar que descreve e inventa as cidades de suas visitações. Em “O mundo do menino possível”, temos uma poesia que revela fatos e gestos dos afetos pessoais, pessoas queridas, cenas familiares, celebrações da vida. Em “Jardim de obsidianas”, o eu lírico evoca Vulcano e assume a natureza ígnea de tua artesania poética, como uma experiência de subjetivação do mundo. Ao prefaciar esse livro eu me encantei com teus poemas e as fotografias de Jamison Pedra, que, juntos, num consórcio de texturas, ângulos, nuanças e signos, comungam a plasticidade fotográfica e poética. Nesse livro tua poesia é um itinerário de viagens, vivências e percepções. Compartilhas epifanias líricas, colhidas nos diversos lugares onde a poesia tocou tua sensibilidade. O livro seguinte, Casa onde habitamos, poesia (2016), é uma coletânea vigorosa, uma poesia de ofício, no qual a poeta exercita seus instrumentos criativos com muita consciência da forma, da linguagem, dos recursos e efeitos. O livro enfeixa 83 poemas, nos quais a poeta passeia com desenvoltura pela técnica do verso branco, o metro livre, ora convocando o ritmo e as rimas de modo a balancear as estruturas entre as lições da tradição e as conquistas da contemporaneidade. No seu livro mais recente, Tenda acesa, poesia (2020), a autora procede a uma fértil expansão lírica, com uma poesia de essências e sutilezas, em que recolhe a amorosidade como “o ouro da vida”, as afinidades relacionais entre pessoas, como a “poesia sempre possível”, as experiências existenciais colhidas através de “olhos capitais”, e sempre com a percepção dos trânsitos, viagens e deslocamentos.
Aleilton Fonseca

Heloísa Prazeres, poeta, ensaísta e tradutora. Professora adjunta aposentada do Instituto de Letras (IL) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestre em Teoria da Literatura pelo Instituto de Letras da UFBA. Cumpriu doutorado em Literatura Comparada no Departamento de Línguas e Literaturas Românicas da University of Cincinnati, Ohio, Estados Unidos. Foi titular na Universidade Salvador (UNIFACS) e coordenou o Núcleo de Referência Cultural da Fundação Cultural do Estado da Bahia. Publicações: Temas e teimas em narrativas baianas do Centro-Sul (FCJA; UNIFACS; SECULT, 2000); Pequena história, poemas selecionados (Salvador: Quarteto, 2014); Antologia outros riscos, do Prêmio DamárioDa Cruz de Poesia (Salvador: FPC/Secult-BA e Quarteto, 2013); Poetas da Bahia, III (Salvador: Expogeo, 2015); Antologia 5º Prêmio Literário de Poesia, Portal Amigos do Livro (São Paulo: Scortecci, 2015); Casa onde habitamos, poesia (São Paulo: Scortecci, 2016); Arco de sentidos, literatura, tradução e memória cultural (Itabuna: Mondrongo, 2018); Tenda acesa, poesia (São Paulo: Scortecci, 2020). Participação em antologias: O silêncio das palavras (São Paulo: Scortecci, 2018); Singularidade das palavras (São Paulo: Scortecci, 2019). É membro vitalício da International Alumni Association e da Academia de Letras da Bahia.

Serviço:

A Vigília dos Peixes
Poemas
Heloísa Prazeres

Scortecci Editora
Poesia
ISBN 978-65-5529-669-3
Formato 14 x 21 cm 
92 páginas
1ª edição - 2021

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