NA CASA DE MINHA AVÓ / Misa Ferreira

Li certa vez que o grande poeta Manuel Bandeira dizia ter tentado algumas vezes escrever textos em prosa, mas acabava desistindo e tornava aos poemas, onde se sentia em casa. Identifiquei-me com essa fala do poeta e nunca me vi escrevendo poemas. Escrevia prosa e pronto. Não, nada é exato, nem para sempre. Eis que um dia comecei a escrever poemas e essa tem sido uma experiência ímpar, deliciosa, que me trouxe imensa alegria. Escrever poemas é viver em sonhos, é andar sobre o mar. A prosa e o poema seguem o mesmo caminho, só que em estradas paralelas. A prosa caminha precisa, com passos firmes sempre tocando o chão. Já o poema é livre, não dispensa asas, voa e vê o mundo de cima, atravessa as nuvens, voa com o vento companheiro. A prosa é o real, o poema é o sonho. Quando me acossa o desejo de escrever um poema, tiro as asas do coração. A liberdade me toma por inteiro. Posso “Brincar na lua”, tocar as nuvens que não são vapor, mas pedaços de algodão num “Céu de outono”, posso tomar a “Decisão” de rimar caneca com “eca”. Em “Dores e flores” posso ser Flor de Maio ou Flor de Mel para não sentir a dor de ser gente. Entro em “Êxtase” ao contemplar o céu e o firmamento, volto à infância com a “Lembrança” da torta de banana feita pela minha mãe. Entro “Na casa de minha avó” e passeio entre sussurros, sombras e saudades de meu pai e tios. Também dou receita de amor que não precisa ser grande, basta ser “Amor de passarinho” ou “Terno amor”, que é feito de pouquinhas coisas. Esses poemas, entre outros, compõem o livro Na casa de minha avó.

“Eu sou as histórias que eu conto
 As lembranças que eu tenho
Os sonhos que fiz poemas
Para não esquecer.
Já vivi bem mais do que viverei
E pra que tanta vida que esquecerei?
Tenho uma alma que é eterna
A dor de viver já não me consterna.
As perdas, as dores do coração
Por aqui ficarão e
Também uma rosa queixosa
Por ter perdido a beleza
Mas não a delicadeza
De até o último suspiro
Se exibir em sua nobreza
Para que os poetas nunca percam
Sua inspiração.”
(Reflexão)

Misa Ferreira (Maria Luiza Ferreira de Rezende) é mineira de Itajubá. Passou a primeira infância em Pedralva, cidadezinha situada no circuito turístico dos Caminhos do Sul de Minas, parte das Terras Altas da Mantiqueira. Funcionária aposentada do Banco do Brasil, com vocação para a escrita, descobriu o prazer de escrever contos e crônicas. Há poucos anos encantou-se com a poesia e fez sua estreia escrevendo poemas com o livro Asas por um dia. Também é autora dos livros Demência: o resgate da ternura, Santas mentiras, Dois anjos e uma menina, Estranho espelho e outros contos.

Serviço:

Na Casa de Minha Avó
Misa Ferreira

Scortecci Editora
Poesia
ISBN 978-65-5529-497-2
Formato 14 x 21 cm 
40 páginas
1ª edição - 2021
Preço: R$ 40,00

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