DESNUDO MAR SELVAGEM / Ricardo Rutigliano Roque

"Nós somos um barco nesse mar. Mar Selvagem é um romance que se parece muito com uma colagem como as de Max Ernest, composto por histórias e personagens entrelaçados girando em torno de estilhaços de informações provindas da Internet, memórias recicladas como se fossem lembranças de sonhos antigos e paisagens que desapareceram, é nas palavras do próprio autor um “livro polifônico”. Acho essa mistura do caos da rede de computadores com o caos da memória muito interessante, e talvez seja esta a marca dos livros do século XXI, uma costura heterodoxa de fragmentos diversos vindos dos mais profundos abismos de sonho do inconsciente. Parece-me nítido que o título remete ao inconsciente, o inconsciente é o “Poseidon” dos criadores e não apenas dos criadores de romances costurados como tapetes persas, como este. Não acredito que os prefácios devam entregar os fios de um enredo, aqui trata-se de se perder para valer, como na vida. Ricardo escreveu o “romance caiçara pós-moderno”? Deixo a resposta para os estudantes de Letras do futuro. A figura do imigrante e a do caiçara são os vetores do livro, mas a memória e a impossibilidade de recuperação do passado formam o centro do livro. Apesar da forma “caótica”, o narrador tem uma dicção sutilmente parnasiana como se um eu de tempos mortos se convertesse em fantasma de nosso tempo para narrar, misturando tempos e vozes com sua saga fragmentada de memórias, que à medida que avançamos no livro ganham um caráter de manifesto atemporal de defesa da delicada fragilidade da família, esta instituição cada vez mais fantasmagórica para alguns e mítica para outros, que o autor desloca para a zona da extrema solidão dos pedaços de um barco destroçado pelo furor de um mar chamado tempo."
Marcelo Ariel.

":. SEJA DESPREVENIDO .:

Na seara dos autores e autoras destituídos de alguma divulgação minimamente boa nessa perdida tábua flutuante dos mares-do-sul, uma dica que eu daria aos (somente!) leitores e leitoras é "sejam desprevenidos(as)"!

Foi o prefaciante, o querido Marcelo Ariel, quem deu a letra: não se trata de um modelo recorrente de se construir personagens. Quem sabe, um hábito como sempre no mundo das artes a ser desfrutado bem mais adiante.

Prevenção é para esse nosso mundo áspero, ruim de lidar em boa parte das vezes. Se você é um(a) leitor(a), mesmo, o bom é quando não se tem uma rede de segurança por baixo. As surpresas são para lá de saborosas.

Em "Desnudo Mar Selvagem", não esperem os personagens que fizeram parte de suas aulas de leitura na escola, muito menos um certo ar 'kitsch' fortemente operante toda vez que se tenta descrever vida litorânea — fotos de pôr-do-sol na praia e um frequente estereótipo de vida junto ao mar por vezes agressivo.

Em "Desnudo Mar Selvagem", os arquétipos são ancestrais...

Gosto quando um texto me pega 'de surpresa'. É o caso. Um romance literário às voltas com uma poética comum em Madô Martins, Regina Alonso, Maria José Goldschmidt e Clara Sznifer, ora Picaré, ora Ariel. Um romance na linha de 'recortes', comuns nas clivagens das engenharias sociais, com o chamado de vozes em ecos de tudo o que nos formou e nos trouxe até aqui.

É, por essas e outras, que sempre anuncio a quem me pede 'uma dica' para ser um(a) leitor(a) atento(a): seja desprevenido(a). Caso contrário, a beleza passou por ali e você nem viu." - Marcelo Rayel Corregiari.

Ricardo Rutigliano Roque inicia sua aventura literária ao ler Toinho o Rebocador, de Gertrude Capton, e musical ao ouvir O Mar, de Dorival Caymmi. Agora, evoca o mar no romance Desnudo Mar Selvagem, premiado pelo FACULT — Fundo de Assistência à Cultura, em seu 8º Concurso de Apoio a Projetos Culturais Independentes do Município de Santos; nesse meio-tempo, mas nessas mesmas águas, embarca sua Poesia, Haicai e Conto, com destaque para: Em Santos Catando Guaru, Poesia à Rua, Caiçara em Haicai, Uma Chama Atlântica, Da Mata Atlântica a Neruda e Diálogo Caiçara com Saturnino de Brito, obras solo pela cartonera Caiçara Catadora de Capa Artesanal. Flutuam nessas correntes suas canções: Epitáfio de um Amor Filial, Chatice sem Você, Reboca o Navio, Caiçara Poética, Brincante Charleaux e Desculpa, musicadas por Baraquet, Sua Música por Hippe, e Choro na Medida por Mansur, e traduz as ondas em seu vídeo que dirige: Fortaleza da Barra, editado por Rodrigues. Promove a Literatura local ao se dispor a motivar alunos à leitura, em escolas públicas de seis municípios da Baixada Santista. Busca provocar o público em périplos que realiza em espaços populares de Santos: palco Zéllus Machado da Concha Acústica Vicente de Carvalho, Aquário Municipal de Santos, Museu de Pesca, Biblioteca Municipal Mário Faria e Pinacoteca Benedicto Calixto. É idealizador do programa Ler o Vizinho no Acervo dos Escritores Santistas. Ensaia suas remadas acadêmicas em A Audição dos Profissionais de Saúde e sua Preservação – Uma Estratégia em Saúde Ocupacional, Proposta para o AMBESP – Ambulatório de Especialidades, da Prefeitura Municipal de Santos, em 1999, que embasa ação civil pública no Ministério Público do Estado de São Paulo, que antecede desapropriação da Estação Valongo de Santos com desvio do trânsito de caminhões do cais em seu pátio. Aporta, assim, o seu barco em terra firme, ali junto às outras embarcações antológicas: Poetando, Haicai Caiçara, Caminho das Águas e Mulher Caiçara Onde Estiver.

Serviço:

Desnudo Mar Selvagem
Ricardo Rutigliano Roque

Scortecci Editora
Romance
ISBN 978-65-5529-215-2
Formato 14 x 21 cm 
168 páginas
1ª edição - 2020

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