ENCONTREI UM VELHO AMIGO UM DIA DESSES / Cristiano Stankus


Memória. Memória e uma garrafa de vinho. Memória e uma varanda. Memória e íntimos fantasmas. Memória e amores. Memória e um homem que resgata a si mesmo, em meio a tantos pedaços de vida, e se bebe, trago a trago, esperando que a luz da manhã lhe traga o bilhete de embarque no vapor – o primeiro ou o último de sua existência? – há muito esperado. Deixar-se ir, porque a vida se esvaziou de sabor e sentido. Saber partir – querer partir para viver longe da dor da carne – um câncer – e do espírito – a saudade. Temos direito à vida, lutamos por ela. Temos direito também à morte? Podemos desistir de lutar por ela? Faz falta perguntar... Frederico, um senhor de 74 anos, enquanto bebe sua última garrafa de vinho, revive – ou passa a limpo – sua dolorida trajetória: a infância, a juventude, a vida adulta; as amizades, as paixões, os amores numa São Paulo a equilibrar-se, convulsiva, na virada do século XIX para o XX.

Naquele momento, mergulhei num silêncio, aguardando uma boa coça ou uma resposta merecida pela súbita impertinência. Pensei em correr, mas, dentro de mim, um ego corajoso me impedia de realizar tal ato, e tendo consciência da minha ousadia e do castigo a ser recebido, permaneci ali. Eu precisava ouvir a resposta daquele cavalheiro. Um frio congelava minhas ações, mas um fogo impetuoso ardia em meu corpo; eu mantinha a postura ereta através de um olhar fixo, na espera de algo que me realizasse. O senhor levantou levemente sua cartola e acariciou seu bigode; eram segundos eternos, mas o carrasco de minha execução sorriu, esboçando uma tímida gargalhada que me aliviou os pensamentos. Pensei que ele iria embora, mas para minha surpresa ele pegou meu braço miúdo, que se perdia em um suéter vermelho cerzido com alguns remendos, e me levou até o Beco da Quitanda, onde me colocou sobre um velho caixote; com um olhar voraz me respondeu que, no momento em que eu estivesse com aquele tamanho, certamente iria entender o que fazia um homem ser homem, pois era preciso aprender com a vida para depois conquistar as regalias e desfrutes de alguns contos de réis.

Cristiano Stankus nasceu na cidade de Dois Córregos, interior de São Paulo, no dia 15 de setembro de 1976. É professor, formado em Pedagogia, no ano de 2013, pela Faculdade Campos Salles, e formado em Letras, no ano de 2016, pelo Instituto Educacional Alpha Plus. Também é poeta, escritor (chamado de “Machadista” pelo amigo Zaqueu Machado!), músico, contador de histórias e pastor evangélico, desde 2004. Há seis anos se dedica ao ensino de crianças do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental I, na rede pública do estado de São Paulo e no Colégio Dias Lemos; mas também lecionou Língua Portuguesa, no ano de 2012, na Escola Estadual Integradas 2 de Maio, na cidade de Fortaleza, estado do Ceará. É apaixonado pela vida e por sua família, fonte de toda sua inspiração.

Serviço:

Encontrei um Velho Amigo um Dia Desses
Cristiano Stankus
Scortecci Editora
Romance
ISBN 978-85-366-5748-6
Formato 14 x 21 cm  
192 páginas
1ª edição - 2018
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